21 de ago. de 2011

EU AMO, EU CUIDO! - Marilice Costi


Sábado. Primeiro cuidar de si. Ao seguir para a academia, percebo o meu bairro, considerado junto com o Bom Fim, bairro de Bem Viver na Reunião de Bairro coordenada pela UNESCO com vistas ao V Congresso da Cidade de Porto Alegre. Orgulhosa de ser, decido assumir a minha parte no meu lugar, o espaço ao qual nos vinculamos afetivamente. Sou desses dois bairros há quase 40 anos.
Ontem, ventou e choveu, mais ventou. Há galhos de árvores pela rua e à minha frente no passeio vejo sacos de lixo cheios e vazios carregados pelo vento a seguirem para os bueiros. Lastimo não ter trazido uma sacola de casa. Junto dois em bueiros e os cheios defronte a condomínios antigos da década de 70. Meu cérebro linca com a palestra do Prefeito de Bogotá, a questão da cidadania. Sou portoalegrense e preciso fazer minha parte. Mesmo sem luvas, vou tirar aquilo da calçada: é quando percebo matéria orgânica misturada com matéria reciclável, o peso! Aqui e ali, amasso com os pés as caixas de leite e coloco nas lixeiras pequenas colocadas no passeio no ano passado. Olho para o céu e percebo uma peça despencando da fiação. Páro, como faria meu pai, e busco alguém perto. Uma moça! Deve ser moradora. Ela me diz que cansou de pedir. Que eles vêm, amarram com arames e logo rompem, tudo se repete. Observo que aquilo deve ser das múltiplas redes que poluem nosso ar, as NETs. Um lixo no ar? Reclame novamente, pedi. Isto poderá cair na nossa cabeça. Já vi tudo? Catadores dentro dos novos containers, moradores de rua futricando em busca de latinhas...e comentários: tem gente dormindo dentro e é por isso que as ruas estão ficando vazias! O caminha leva! Quem vai se dar conta deles? O imaginário urbano?
Respiro fundo e entro na farmácia onde conto minhas peripécias aos atendentes. Ganhei interessados no V Congresso? Atravesso a rua e comento com um vizinho que nunca falei. Ele está desalentado: o caminhão recolhe o lixo seco dos vizinhos e não leva o meu. Daí, os moradores de rua estraçalham os sacos na minha calçada e tenho que limpar! Então, agora misturo tudo e coloco dentro do container. Mas senhor Alexandre, ligue para o 156. Faça sua queixa! Não adianta, arguiu, cansei deles. A credibilidade pública! Repito e nada de convencê-lo. E ele ainda diz: veja, o container está na frente do bueiro, não deveria! Olha ali, empurraram para cá, colocaram lá!
E a seguir as latas de tintas enferrujadas (as mesmas há anos!) na esquina. A falta de fiscalização foi apontada naquela reunião! Fazer cumprir a legislação! Adiantaria punir?
O meu andar vai ficando quixotesco. Um homem mexe em muitos sacos de lixo na pracinha. Lembro do deficiente mental que rasgava sempre os sacos de lixo na praça. Pergunto se foi ele quem colocou aquele saco no meio do canteiro gramado. Não fui! sentiu medo. Ali há uns quatro quilos de ossos, provavelmente retirados da grande lixeira, um chamariz aos cães. Não levo o assunto adiante e coloco no container. Acho bom que, ao mover há sistema hidráulico, que reduz o esforço para abri-lo. E começo a amar essas coisas que limpam meu bairro! E penso que tudo foi coisa de escolha de cabeça muito bem pensada! Quem não produz lixo?
Lembrei a infância em Passo Fundo e meu pai a dizer: falta educação no povo! As escolas! E estimular o sentimento de pertença: amo este lugar, estou aqui!
Tive vontade de conversar com todos os vizinhos, de bater de porta em porta... . Quem me acompanharia? Afinal, ser cidadão não é esperar que os outros façam tudo!
E eu iria longe com o encadeamento de estímulos urbanos à minha memória. Cuidar da cidade é também cuidar de mim!

Um comentário:

urbanascidades disse...

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Um abraço,
Paulo Bettanin.