9 de out. de 2007

JOSÉ ALBANO, descrito por Gibran


O professor que caminha à sombra do templo, entre seus discípulos, não tem como dar a eles seus conhecimentos mas sim sua fé e seu amor.
Se é verdadeiramente um sábio, não convidará vocês a entrarem na mansão de seu próprio conhecimento mas, em vez disso, conduzirá vocês aos portais de suas próprias mentes.

Kahlil Gibran

Perdemos o querido amigo, professor e colega José Albano Volkmer, mais conhecido como Albano, mas que na verdade sempre foi José, um carpinteiro da democracia, da solidariedade, da luta incansável pelo nossopatrimônio arquitetônico e pela valorização da Arquitetura e do Urbanismo. Multiplicador de idéias, um agregador. Foi de rara delicadeza com tudo o que o cercava: pessoas e ambientes.

Conheci-o na antiga SURBAM. Acolhedor, estimulador, facilitador porque como mestre, sempre apontava caminhos. Meu primeiro chefe. Foi uma de minhas experiências de trabalho mais marcantes. Seriedade, compreensão e afetividade eram naturais. Cedeu-me para a SPHAN, onde estava uma das meninas de seus olhos: as raízes do RS, o legado italiano e alemão, que naquela época não era ainda valorizado em seus conjuntos urbanos.

Na Secretaria de Obras que conheci Dulce, incansável cuidadora da Biblioteca, sempre buscando documentos e livros para que fizéssemos o melhor em nosso trabalho público. Amorosa como José, estava ali, a pessoa que mais tarde seria sua companheira. Doce como seu nome, fiquei feliz quando soube que estavam unidos.

Registro um dos encontros mais próximos: quando ele apoiou a Academia Literária Feminina para que se tornasse patrimônio histórico. Sua única hora disponível? a do almoço. Sim, podem pedir sim, foi categórico. Aqui está o registro histórico de muitas escritoras que tiveram que romper o paradigma da eterna dona de casa. A luta daquelas mulheres que, no máximo, podiam exercer o magistério, argumentou. Visitou o prédio na rua Sarmento Leite, reuniu-se com a direção e tentou-se um concurso público com o apoio do IAB-RS.

Albano sempre se fazia presente quando, o objetivo, eram as lutas legítimas dos arquitetos. Mas estaria também ao lado de qualquer batalha que tivesse, em sua base, a valorização do ser humano e do que lhe cabe.
Hábil articulador, esteve na direção do CREA-RS, no CONFEA, nos muitos encontros de Arquitetura e Urbanismo, lutando pelo nosso conselho - o CAU, pela legislação justa, pela ética profissional.

Sempre de braços abertos para o novo e para o passado. Firme e claro assim como seu olhar e o seu aperto de mão: o de um homem bom-senso, com H.
Em 2003, encontrei-o em Passo Fundo, quando participamos da Oficina de Acessibilidade proposta no evento. Andamos de cadeira de rodas com alunos e colegas professores, conscientes da importância dos ambientes na inclusão dos portadores de deficiências, cidadãos.

Na última vez que o vi, percebi suas sobrancelhas muito brancas. Achei-o de um cor que não gosto de perceber nos meus amigos antes de partirem. Ele estava animado ao iniciar outro movimento em sua vida: a Direção da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. E não o vi mais desde lá.

Com enorme tristeza, soube de sua partida. Na hora, o caixão fechado. Muitos momentos que trabalhamos juntos rolavam em minha memória, mas eu não conseguia mais lembrar do seu rosto! Que agonia! Lembrava do seu aperto de mão, afável, do porte, da sua forma de ser cordial movendo sua cabeça e dizendo - vamos, vamos fazer! - mas sua face se esfumaçara.

José Albano Volkmer deixa um legado de postura profissional e humana: respeitabilidade, dedicação, esperança e fé incondicional nas pessoas. Uma lacuna que não há como preencher. Ficamos um pouco mais órfãos. Tão necessitados que estamos de rotas iluminadas!

Muito obrigada, José!

escrito por MARILICE COSTI
http://www.sanaarquitetura.arq.br

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o texto sobre o Albano, amigo de tanta gente.
Convivi com ele na Secretaria da Cultura, na área dos
museus. Lembrei-me que fomos juntas, com a Hilda, falar
sobre a Academia e ele nos deu toda atenção e muitas
sugestões. Albano foi sempre de uma educação
impecável. Não pensei que ele estivesse assim tão
doente. De fato, foi uma grande perda.
Teniza Spinelli

Anônimo disse...

Marilice!
Acho que estamos muito afinados, veja o que eu havia escrito para ti: perdemos um farol. E tu escreves "estamos necessitados de rotas iluminadas"!
Ou seja, o Albano era consenso.
Sobre ele ainda cabe o que Armindo Trevisan dizia quando dava aulas para nós: "existem professores, a maioria. E existem mestres, raros".

André Huyer
andre@huyer.arq.br

Anônimo disse...

MARILICE,
DA MESMA FORMA, LAMENTEI MUITO A MORTE DE NOSSO QUERIDO ALBANO.
LEMBRO DELE QUANDO MEU PROFESSOR E DEPOIS NOS ENCONTROS EM EVENTOS. SEMPRE LIGADO A TUDO QUE ERA DA PROFISSÃO.
ENFIM NÃO TEMOS PALAVRAS PARA DESCREVER A DOR, TRISTEZA E LAMENTAR...
TUAS OBSERVAÇÕES FORAM PROPRIAS E IMPORTANTES.

UM ABRAÇO
BEATRIZ CHERUBINI ALVES